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terça-feira, 26 de abril de 2016

GOLPE DO DPVAT

Doze pessoas foram presas nesta terça-feira (26) durante a “Operação Ressurreição”, deflagrada para desarticular uma quadrilha suspeita de aplicar golpes para obter o seguro DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres) e driblar o rodízio de empresas funerárias em Curitiba. 

Entre os presos estão donos de funerárias, motoristas do Instituto Médico Legal (IML) e empresários. 

As pessoas detidas serão indiciadas pelos crimes de associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, estelionato e falsidade ideológica. 

Além deles, um médico da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Colombo, um advogado e um gerente de banco foram alvos de mandados de condução coercitiva – quando a pessoa é levada para depor na delegacia. 

Em 14 mandados de busca e apreensão, além de vasta documentação, foram apreendidas cinco armas e mais R$ 4,8 mil. Entre os suspeitos há dois agentes funerários – um deles está foragido e o outro foi preso em flagrante porque uma arma foi encontrada em seu poder durante o mandado de busca. 

A investigação foi conduzida pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) e a operação aconteceu em Curitiba, Almirante Tamandaré, Colombo, Pinhais, Piraquara e Ponta Grossa, contando com a atuação de 60 policiais. 

“Alguns dos suspeitos são funcionários públicos e deveriam zelar pela administração pública. Casos esses servidores sejam concursados, a Secretaria da Segurança Pública vai abrir um procedimento administrativo que pode resultar até na expulsão do servidor. Nossa gestão não vai compactuar com desvios de conduta”, afirmou o secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita. 

CRIMES – Os investigados passavam o dia, e especialmente a madrugada, atrás de corpos de vítimas de acidentes de trânsito ou morte natural. Para isso, corrompiam motoristas do IML para que eles fornecessem informações privilegiadas e em tempo real dos óbitos ocorridos na Capital, Região Metropolitana e em Ponta Grossa. 

Para cada “corpo”, a quadrilha oferecia R$ 700 aos motoristas do IML. Dos quatro funcionários do Instituto investigados, pelo menos dois deles usam aparelhos celulares em nome dos suspeitos, e pagos por eles, uma forma de facilitar o repasse das informações. 

De acordo com a polícia, os dados privilegiados chegavam até a quadrilha também através de socorristas do Siate, sendo que, por ora, na investigação, não há indícios de que estes socorristas receberam dinheiro da quadrilha. 

De posse das informações sobre o morto, os integrantes da quadrilha faziam contato com os familiares para obter deles procurações para dar entrada no seguro DPVAT, cujo valor pode chegar até R$ 13,5 mil. Uma pequena parte deste dinheiro era repassada às famílias dos mortos e o restante ficava com a organização criminosa. A alegação era de que o restante era gasto nas despesas do enterro. 

Nos casos de mortes naturais, após serem informados pelos motoristas envolvidos, integrantes da quadrilha ligavam para o IML se passando por parentes da vítima e cancelando o atendimento do Instituto. A quadrilha, então, acionava um médico da UPA de Colombo para atestar o óbito e direcionar o serviço funerário para as empresas ligadas ao esquema. A polícia investiga se o médico, que foi conduzido coercitivamente, era conivente com os criminosos ou se foi uma vítima desta quadrilha. 

“Os investigados utilizam todo tipo de artimanha para enganar parentes das vítimas, se aproveitando, obviamente, do momento de fragilidade que estas se encontram. Nos casos de morte natural, inúmeras são as conversas onde eles se passam por policiais militares e também por servidores do IML, visando direcionar o sepultamento para funerárias 'parceiras', onde eles ganham uma comissão, fraudando documentos para essa finalidade”, explicou o delegado do Nurce, Renato Bastos Figueroa. 

Um dos documentos falsificados foi um Boletim de Ocorrência no qual um dos suspeitos tentou fraudar a morte do próprio pai. O suspeito chegou a fazer um Boletim de Ocorrência em 25 de fevereiro de 2015, comunicando a morte do pai, vítima de atropelamento. Para a surpresa dos investigadores, o “morto” apareceu em uma das conversas interceptadas, autorizadas pela Justiça. 

Em outra conversa interceptada com autorização judicial, outro integrante da quadrilha se passa por um oficial do Exército para tentar aplicar o golpe. Ele liga para um familiar de um dos soldados que morreu num grave acidente em 19 de janeiro de 2016, na PR-412, em Coroados, próximo à entrada de Guaratuba, no Litoral do Paraná. O golpe não foi consumado porque um oficial do Exército chegou ao IML e a quadrilha desistiu. 

“Há meses, a Polícia Civil investigava essa quadrilha, que fraudava documentos e enganava familiares dos mortos em um momento extremamente difícil, em razão da perda de um familiar, e acabava auferindo lucros enormes. Agora, os envolvidos estão presos, vários mandados foram cumpridos e o inquérito deverá ser concluído no prazo legal”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil, Julio Cezar dos Reis. 

INVESTIGAÇÃO – O trabalho da polícia começou em julho de 2015, após representantes do IML comunicarem irregularidades na liberação dos corpos de duas pessoas. Em um dos casos, os registros sobre o óbito de uma mulher teriam desaparecido do Instituto, sendo ela enterrada no município da Lapa, através do esquema montado pela quadrilha. 

“Após um mapeamento interno dessas irregularidades por parte da direção do IML e da Polícia Científica, a denúncia foi entregue à Polícia Civil, que fez todas as diligências necessárias”, explicou o diretor-geral da Polícia Científica do Paraná, Hemerson Bertassoni Alves. 

Outro caso envolve um homem declarado morto pelo próprio filho, que foi induzido pelos golpistas. O crime não se consumou porque a seguradora desconfiou das informações repassadas. 

De acordo com as investigações, os mentores do esquema criminoso contavam com a ajuda dos motoristas do IML, donos de um despachante e de funerárias que funcionavam na Região Metropolitana de Curitiba. 

A polícia investiga o suposto envolvimento de um médico da UPA de Colombo, que atestou o óbito de algumas pessoas, de um advogado e de um funcionário de um banco que repassava informações de contas bancárias de terceiros. Os três foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimento. 

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